quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Construção ecológica é viável. E lucrativa

Gazeta Mercantil, Julio Ottoboni, 22/jan

O engenheiro civil Luiz Fernando Lucho do Valle é um inovador, particularmente ao ligar o meio ambiente, a construção civil e o mercado imobiliário. E ao provar que esta combinação é viável em termos econômicos, lucrativa e geradora de diferenciais de venda. Com 29 anos de experiência profissional na construção civil nas áreas de incorporação, comercial, gestão e marketing, Valle é um dos pioneiros ao inserir o conceito de sustentabilidade na engenharia civil residencial e estabelecer um novo paradigma no mercado com sua empresa, a Ecoesfera.
A Ecoesfera Empreendimentos Sustentáveis nasceu em 2004 e foi responsável pelo desenvolvimento do conceito de habitação Ecolife, com 16 diferenciais ecológicos que vão desde o processo construtivo à vida útil do empreendimento. Atualmente, dois projetos lançados pela companhia estão pré-certificados com o selo "Green Building", que se baseia na sustentabilidade e qualidade de vida.
Pelos cálculos do empreendedor, cerca de 40% de seus clientes procuram residências que tenham o apelo do ambientalmente correto. A Ecoesfera já lançou, em apenas cinco anos de vida, 22 empreendimentos, totalizando 2.600 unidades de apartamentos nas cidades de São Paulo, Campinas, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro e Porto Alegre.
Valle faz questão de afirmar que sua empresa nasceu com o DNA da ecologia. Por isso, os empreendimentos da Ecoesfera possuem características sustentáveis para proporcionar conforto, lazer e economia, além de priorizar o consumo inteligente de recursos naturais como água, energia e gás, desde a concepção até a construção de seus imóveis.
A Ecoesfera tem um portfólio de produtos que atende todas as faixas de renda do seu segmento alvo, a classe média, como os selos EcoOne , EcoWay e Ecolife. Em todos eles são encontrados os itens de ecoeficiência adotados pelo grupo para proporcionar melhor uso dos recursos naturais durante a vida útil do residencial.
Entre eles estão: coleta de lixo seletiva, coleta de óleo de cozinha, sensores de presença na utilização da luz artificial, captação de água pluvial para irrigação das áreas verdes, captação e tratamento de água proveniente de pias e chuveiros para reutilização somente nos vasos sanitários, aquecimento de chuveiros a gás, medidores de consumo individuais de gás e de água, placas de captação de energia solar para iluminação das áreas comuns e pré-aquecimento da água. Dessa maneira, os moradores podem ter uma taxa de condomínio cerca de 30% menor que os valores pagos em edifícios convencionais.
Além da preservação e da consequente economia, a Ecoesfera segue uma tendência mundial de valorização dos prédios verdes. Na Europa, por exemplo, a preocupação com o tema valoriza um imóvel considerado sustentável em torno de 20% no ato da revenda.
"Acredito que até 2015 esse fenômeno ocorrerá também no Brasil, já que muitos de nossos clientes manifestam como motivo principal da compra do apartamento os benefícios que os itens ecoeficientes agregaram economia e contribuem com o meio ambiente. Isso significa que as pessoas já estão considerando estes diferenciais como razão para a valorização do imóvel", afirmou Valle.
Gazeta Mercantil - Em que momento profissional e pessoal a questão ambiental se fez presente?
Desde criança, a questão ambiental sempre esteve presente na minha família. Por necessidades financeiras, o meu pai sempre nos ensinou a apagar a luz após sair de um ambiente, não demorar no banho, coisas que pareciam insignificantes e que mais tarde seriam tão importantes na minha vida pessoal e profissional.
Gazeta Mercantil - Houve algum processo ou ação que lhe deu um "insight" sobre a necessidade de levar o discurso ambiental para a prática?
Não houve um fato isolado que promovesse essa mudança, mas uma sucessão de fatos. Eu estava prestes a completar 50 anos e, graças a Deus, estava com uma carreira consolidada, constituí uma bela família, mas ainda faltava algo que contribuísse para o bem comum. Lembrei-me do meu pai quando estava prestes a morrer e nós tivemos uma conversa de pai para filho que me marcou muito. Ele disse para eu nunca me esquecer de que todos têm uma missão, que não podemos passar pela vida sem contribuir para uma causa maior. Passei a reavaliar minha vida até aquele momento como empresário, como pai, como marido. No dia 31 de dezembro de 2003, eu estava sentado numa pedra à beira-mar na praia de Guarapari, no Espírito Santo, pensando como poderia contribuir para um mundo melhor. "Será que dá para mudar o mundo?" Voltei à minha rotina decidido a mudar. Saí da empresa em que na ocasião ocupava um cargo de diretoria para dar início a um novo projeto de vida. Tranquei-me em casa durante 90 dias e me abasteci de todo material que podia sobre sustentabilidade. Busquei referências fora do País e usei a técnica da visualização criativa, aquela em que você mentaliza seus desejos para que eles se concretizem no futuro. Estabeleci que usaria meu conhecimento para ajudar a construir um mundo melhor. Nesse processo elaborei um plano de negócios com um foco na construção habitacional ecológica. No segundo semestre de 2004, vendi o apartamento que morava e coloquei os dois carros da família como garantia para constituir a Ecoesfera Empreendimentos Sustentáveis.
Gazeta Mercantil - A construção civil é apontada como geradora de interferências microclimáticas em áreas urbanas. Você acredita que a consciência do bem-estar ambiental já chegou aos empresários do setor ou é algo raro no meio?
Não é raridade. Porém, há poucos empresários no setor da construção civil que colocam na prática a questão ambiental. Sou um otimista e acredito que esse movimento irá crescer, até porque o consumidor hoje está mais atento e mais exigente quando o assunto é o futuro da família. Principalmente as mulheres, que se preocupam bastante com o mundo que irão deixar para os filhos. O brasileiro também está mais sensível às questões ambientais. Uma pesquisa realizada pelo IBGE em julho de 2007 demonstrou que 53% dos consumidores deixariam de comprar sua marca preferida se soubessem que o fabricante faz algo prejudicial à sociedade ou ao meio ambiente. Tal mudança cultural reflete automaticamente na economia de um país. Isso implica não só na escolha da casa, mas em tudo que consumimos, o que é ótimo do ponto de vista ambiental, pois estimulará empresas a reverem seus conceitos e criarem produtos que não agridam o meio ambiente.
Gazeta Mercantil - O caso do telhado ecológico é singular. Há algo parecido nos países emergentes da Ásia, por causa da falta de espaço agricultável. Como surgiu essa idéia para São Paulo?
Como comentei, fiquei mergulhado em pesquisas e referências de outros países, e me deparei com um bairro residencial no sul de Londres, o BedZED, ou Beddington Zero Energy Development (Empreendimento de Energia Zero), que é o modelo líder em sustentabilidade urbana e minha grande inspiração - e que tinha esses telhados. Procurei empresas no Brasil que produzissem esse tipo de telhado e por sorte encontrei outro empresário do Sul engajado como eu. Implantar esse tipo de telhado em São Paulo faz todo sentindo, pois contribui com a qualidade do ar e aumenta o verde nas grandes metrópoles. As plantas do telhado ecológico removem as partículas do ar, produzem oxigênio e oferecem sombra. Elas usam energia calorífica durante a evapotranspiração, um processo natural que resfria o ar à medida que a água evapora das folhas da planta. A evapotranspiração e a sombra produzidas pelas plantas ajudam a eliminar o efeito da ilha de calor urbana criado pelo excesso de prédios e asfalto. Como as ilhas de calor urbanas elevam a temperatura de 6°C a 8°C em áreas urbanas e suburbanas, elas acabam aumentando a demanda por aparelhos de ar-condicionado e iniciam um ciclo de consumo de energia que contribui para o aquecimento global. Se utilizados em larga escala, os telhados ecológicos podem diminuir até 4°C, reduzindo os efeitos incômodos das ilhas de calor e contribuindo com a saúde de quem vive nas grandes cidades.
Gazeta Mercantil - Como foi o primeiro impacto de seus clientes quanto a essa proposta? Pelo visto, há um conservadorismo ainda muito grande na hora de escolher a moradia.
O impacto foi positivo. Após alguns lançamentos, realizamos uma pesquisa interna para saber qual o motivo que levou um determinado cliente a optar por nosso projeto, pois na escolha de um apartamento é unânime quais são os fatores de decisão de compra: localização, produto e preço. O que me surpreendeu é que entre esses três fatores implantamos mais um, que é a sustentabilidade, já que 44% dos nosso compradores escolheram nosso projeto pelo fato de agregar itens que geram economia de até 30% na taxa de condomínio e contribuem com o meio ambiente.
Gazeta Mercantil - A empresa tem uma parceria com a U.S. Green Building, uma organização sem fins lucrativos, reconhecida mundialmente, responsável pela certificação de edificações ambientalmente sustentáveis. Como isto se deu e como tem caminhado essa aproximação?
Essa parceria surgiu por meio do engenheiro Newton Figueiredo, da Sustentax, empresa pioneira na América do Sul na certificação de "Green Buildings" pelo critério LEED - Leadership in Energy and Environmental Design, emitido pela ONG Green Building Council. Ela já concedeu as pré-certificações dos projetos Ecolife Independência (SP) e Ecolife Freguesia (RJ). Essas certificações avaliam, entre outros critérios, o uso racional da água e economia da energia. Implantamos itens ecoeficientes que geram tanto a economia dos recursos naturais como proporcionam a diminuição de até 30% da taxa do condomínio.
Gazeta Mercantil - Como é encarada pelo setor da construção civil uma empresa como a Ecoesfera ? Vocês enfrentaram críticas da concorrência?
O setor da construção civil é muito competitivo e resistente à inovação. Iniciativas como da Ecoesfera são positivas para movimentar o mercado, mas em nosso setor, como em outros, as novas práticas passam a ser copiadas. Eu acho ótimo ser copiado, isso reforça que estou no caminho certo, que há coerência no meu discurso e que outros empresários também desejam mudar o mundo. Na Ecoesfera, sustentabilidade não é assessório, faz parte do nosso dia-a-dia; não envolve apenas os projetos, mas a vida de todos os nossos colaboradores.
Gazeta Mercantil - A grande questão é: quais são as diferenças entre a edificação convencional e o processo adotado pela Ecoesfera?
A Ecoesfera é uma construtora que nasceu do processo que comentei anteriormente, fazer nossa parte para um mundo melhor dentro da nossa área de atuação. Construímos edifícios com consciência e responsabilidade, do início ao fim do empreendimento. Por exemplo, compramos terrenos em regiões que atraem compradores e têm alta valorização. Selecionamos terrenos em que não precisamos interferir muito, que dispensam terraplanagem demais, alteração da topografia, mudança das árvores e vegetação originais. Isso economiza custos e economiza o meio ambiente. Também recuperamos terrenos ambientalmente degradados. Buscamos sempre a gestão mais sustentável dos nossos projetos, equilibrando o valor econômico com o valor social e o valor ambiental. Oferecemos programas de gestão do condomínio no dia-a-dia, para criar uma cultura coletiva de uso consciente e de sustentabilidade por meio de programas educativos para práticas sustentáveis na vida das famílias. Acompanhamos e nos corresponsabilizamos pelo funcionamento do edifício.
Gazeta Mercantil - O custo de um prédio com conceitos de sustentabilidade é maior que um convencional? Qual o percentual e como isto é repassado ao consumidor final?
A construção de um empreendimento sustentável em geral é até 15% mais cara que a convencional. Nos projetos da Ecoesfera consegui reduzir esse custo para 3% por meio do conceito de padronização e economia de escala criado pelo Henry Ford, fundador da Ford Motor Company, outra grande inspiração. Isso reforça a questão de rever processos: o meu benchmarking não é o setor da construção, e sim o automobilístico. Construindo no mesmo padrão, é possível comprar materiais do mesmo modelo em grandes quantidades - e ganhar no preço.

Caixa prevê conceder R$ 27 bi em crédito para habitação no ano

DCI, 22/jan
A Caixa Econômica Federal revisa para cima o crédito imobiliário disponível em 2009, para R$ 27 bilhões, ante uma perspectiva anterior de R$ 25 bilhões. A afirmação é da vice-presidente da instituição, Clarice Coppetti.
No ano passado, a disponibilidade foi de R$ 22 bilhões e, segundo a executiva, o banco financiou 45% de unidades a mais do que em 2007, em que o estoque de crédito à modalidade chegou a R$ 15,2 bilhões.
Copettti participou do lançamento do Condomínio Trieste, que tem 340 unidades habitacionais no bairro de Campo Grande, zona oeste do Rio, e recebeu investimentos de R$ 13,6 milhões. Os imóveis são financiados pelo Programa de Arrendamento Residencial (PAR) e estão avaliados em R$ 40 mil, com prestações mensais em torno de R$ 280.
Antes da ampliação do orçamento para o crédito imobiliário, a entidade chegou a afirmar que não esperava chegar aos R$ 25 bilhões até então destinados, esperando chegar a R$ 20 bilhões, 80% do volume total.
A grande aposta é o pacote de medidas que o governo federal prepara para o setor habitacional a ser lançado ainda neste mês ou no começo do próximo.
Entre as medidas, a classe média deverá ser beneficiada com uma redução na taxa de juros e também, com a maior disponibilidade de crédito no mercado. Para a população de baixa renda poderá se beneficiar com políticas de subsídio.
As medidas devem também atingir o setor da construção civil. É dada como certa a desoneração tributária da cadeia de material para o setor. Ainda não se sabe, no entanto, a que níveis de redução o Executivo será capaz de chegar, mas o setor propôs Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) a zero durante o período de dois anos.
Também se especula que haverá uma redução de IPI nos mesmos moldes da concedida ao setor automobilístico. No final de 2008, o governo concedeu a diminuição do IPI de 7% para zero, de 13% para 6,5% de 11% para 5,5%, de 8% para 1% e de 8% para 4%, dependendo da categoria dos veículos. A Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Construção (Abramat) acredita que com essa redução, as metas para o Produto Interno Bruto (PIB) poderiam chegar a 4,5%, ante perspectivas atuais do governo de crescimento entre 2,8% e 3,8%.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Mercado reage e reduz queda nas vendas de imóveis

DCI, 13/jan

Pesquisa realizada pelo Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Estado de São Paulo (CRECI-SP) aponta recuperação da venda de imóveis usados na capital de 24,68 pontos percentuais. Segundo a instituição, o mês de outubro do ano passado, auge da crise financeira global, apresentou grande queda - 26,36% - em relação ao mês de setembro de 2008. Em novembro esse quadro se reverteu e a queda ficou em 1,68%. A pesquisa leva em conta só os números da capital paulista. Ao todo foram consultadas 504 imobiliárias. Estas mostraram que, em novembro, venderam 160 casas e apartamentos. Os campeões de venda foram os apartamentos, com 68,75% do total.
A pesquisa CRECI-SP apurou que em novembro os imóveis mais vendidos em São Paulo foram aqueles com valor superior a R$ 200 mil. A maioria das negociações foi realizada à vista - 58,65% ficando os financiamentos com 38,35%, e as vendas diretamente financiadas pelos proprietários com os restantes 3,01%. Não foram registradas vendas por consórcios pelo terceiro mês seguido.
Em entrevista ao DCI, José Augusto Viana Neto, presidente da instituição disse que considera o índice excelente. "A crise é de confiança. O mercado brasileiro de imóveis, a partir do momento que percebeu a relação entre crise de crédito e imóveis é algo focado no mercado americano, retomou os negócios. Apenas três bancos alteraram as taxas de financiamento para cima e já vão recuar devido a concorrência". Para o presidente, o problema pode acontecer no Brasil se houver uma onda de desemprego. Ele aponta como tendência, a venda de imóveis usados. "Esperamos um 2009 bom em termos de venda , principalmente na venda de imóveis usado. Os aluguéis são possibilidade de bons negócios e lucratividade. O investidor olha para este mercado. Outro fator é a diminuição dos lançamentos e publicidade no setor".
Augusto Viana afirma ser necessário esperar a apuração dos números de dezembro para ver se a recuperação se confirmará como uma tendência. A expectiva é que o índice estadual deva sair em duas semana. Já o fechamento do semestre em meados de fevereiro.
O presidente do CRECI-SP ressaltou, ainda, que a redução de juros passou de 6% para 5% ao ano - nos financiamentos para famílias com renda mensal de até R$ 2 mil.